Pesquisadoras do Laboratório de Microbiologia Aplicada da UFSCar encontraram microrganismos (leveduras e bactérias) em painéis solares fotovoltaicos, instalados nas cidades de Sorocaba e Itatiba (SP), que se mostraram promissores para serem utilizados no desenvolvimento de protetores solares, biodetergentes e pigmentos para várias indústrias, como a de cosméticos.
A análise foi feita no escopo da pesquisa de mestrado de Juliane Moura, no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e Monitoramento Ambiental do Campus Sorocaba da UFSCar (PPGBMA-So), sob orientação de Iolanda Duarte, docente do Departamento de Biologia (DBio-So).
O estudo, realizado em parceria com Tiago Palladino Delforno, do Instituto Senai de Inovação em Biotecnologia, contou com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes) e teve também o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Análises e aplicações
Para realizar as análises, as pesquisadoras coletaram amostras dos microrganismos presentes nos painéis por meio de um tecido de algodão embebido em solução estéril e extraíram o seu DNA. A partir de então, estudaram, detalhadamente, as suas características e a composição microbiana nesses locais.
Duarte explica que as bactérias e leveduras encontradas são chamadas de extremófilas – organismos considerados tolerantes à radiação solar, à escassez hídrica e, também, a grandes variações de temperatura (entre 3°C e 50°C), características importantes para uso em biotecnologia, ou seja, em aplicações tecnológicas dos microrganismos.
“Os painéis solares fotovoltaicos são construídos de forma a não reterem água da chuva, por exemplo. Assim, esses microrganismos aguentam situações naturais extremas, como falta de água, e passam pelo chamado estresse oxidativo, que envolve a exposição à radiação solar”, explica a docente da UFSCar.
Grande parte dos microrganismos encontrados nos painéis possuem pigmentação, característica que, segundo estudos anteriores, os auxiliam a superar o estresse oxidativo e que, por sua vez, os torna úteis para a produção de pigmentos para uma grande variedade de indústrias, como de alimentos, química, têxtil, farmacêutica e de cosméticos.
“Para a indústria alimentícia, eles colorem alimentos e são antioxidantes, sendo esta última uma característica também importante para a produção de cosméticos. Na área química, são usados em substituição a corantes sintéticos, que podem causar problemas de alergia e ser tóxicos ao meio ambiente. Alguns pigmentos também estão sendo estudados para coloração de tecidos, podendo ser mais sustentáveis; e, no âmbito farmacêutico, possuem ação antibacteriana e antifúngica”, exemplifica Duarte.
Por poderem ficar expostos por longos períodos à radiação solar, os microrganismos têm grande potencial também na produção de protetores solares.
Outra possível aplicação – que será estudada mais detalhadamente na próxima etapa da pesquisa – está na produção de biodetergentes com ação antimicrobiana, que podem ser eficientes na criação de produtos de limpeza mais eficazes na indústria e, inclusive, auxiliar na higienização dos próprios painéis fotovoltaicos.
A descoberta desta microbiota se assemelha com outras já encontradas em painéis fotovoltaicos em Valência (Espanha), Berkeley (Estados Unidos), Ártico e Antártica. “Isso prova a sua presença em grandes distâncias geográficas e alta resistência a condições climáticas totalmente distintas umas das outras”, enfatiza a docente da UFSCar.
Parte do estudo foi reportado em artigo – intitulado “Extremophilic taxa predominate in a microbial community of photovoltaic panels in a tropical region” – na revista Microbiology Letters, da Federação das Sociedade Europeias de Microbiologia.