Hoje vamos apresentar um membro de uma das muitas famílias tradicionais brasileiras, e não é nenhum dos primos Oliveiras, dos Silva, dos Magalhães, mas sim das Mirtáceas.
Sabe a goiaba, pitanga, jambo e jabuticaba? São todas Mirtáceas, e você já deve ter comido muitos integrantes dessa família, não negue! E hoje vamos apresentar o Cambuci.
O que é o Cambuci?
Essa fruta é cientificamente conhecida como Campomanesia phaea. Ela tem um formato bem peculiar: é muito parecida com o que imaginamos ser um “disco voador” (e o pessoal que afirma já ter visto um deles pode comprovar!).
Apesar de sua forma inusitada, que talvez tenha inspirado alguns ufólogos, a fruta não veio do espaço. Ela vem do cambucizeiro, uma árvore nativa da Mata Atlântica na vertente da Serra do Mar Paulista.
Acredita-se que a origem do nome Cambuci, seja derivada de Kãmu-si. É um termo tupi-guarani que se refere a um tipo de pote de argila feito para armazenar água, cujo formato é semelhante ao fruto do Cambuci e, consequentemente, aos discos voadores admirados pelos amantes do espaço.
No passado, a fruta era consumida principalmente por indígenas, caipiras (como nós de Piracicaba) e tropeiros. Porém, com o desmatamento da Mata Atlântica, essa fruta chegou muito perto da extinção.
Apesar de pouco conhecida, a fruta, herança da Mata Atlântica, cede seu nome a um dos bairros mais antigos da grande São Paulo, o bairro Cambuci. Tal fato justifica-se pela existência de uma grande quantidade de cambucizeiros encontrados na região muitos anos atrás.
Atualmente, o Cambuci volta ao foco graças ao seu potencial comercial, e ao seu sabor e aroma, que são de outro planeta!
Benefícios à saúde
O cambuci é rico em vitamina C e fonte de antioxidantes, substâncias importantes para o combate ao estresse, prevenção do envelhecimento e de doenças degenerativas. E não para por aí, estudos recentes afirmam seu potencial inibidor de enzimas relacionadas com a incidência de diabetes tipo 2.
Como se não bastasse todas essas super propriedades nutricionais e benéficas à saúde, o Cambuci é muito saboroso!
Receitas com Cambuci
Há quem goste de frutas ácidas e as consuma de forma pura e sem fazer careta. No entanto, há várias outras opções de receitas com a fruta: sucos, geléias, mousses, bolos e até receitas gourmets, que incorporam a fruta em molhos e pratos refinados.
Além disso, o Cambuci tem muita pectina em sua polpa, proteínas de alto poder de gelificação, o que eleva ainda mais o potencial de utilização da fruta na indústria alimentícia.
E mais, para os maiores de 18 anos, ainda é possível a produção de licores e cachaças de Cambuci. E atenção: beba sempre com moderação e não dirija para não bater a nave!
Incentivo cultural
Pra quem ficou com água na boca, é possível participar da Rota Gastronômica do Cambuci, criada em 2009, no município de Santo André, com apoio de municípios vizinhos. A iniciativa busca promover para locais e turistas o aumento da visibilidade da fruta e de seus produtos derivados.
Algumas organizações não governamentais incentivam o plantio e a comercialização do Cambuci, contribuindo com o desenvolvimento sustentável, promovendo a conservação ambiental e fortalecendo ainda mais a renda de agricultores familiares.
Estudos sobre o Cambuci
Pesquisas sobre a cultura do cambucizeiro mostram a riqueza de seus nutrientes e suas possíveis propriedades farmacológicas, e estudos assim precisam ser ampliados, facilitando a produção em escala comercial.
A Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, com o objetivo de sanar essa necessidade, vem desenvolvendo pesquisas que visam contribuir para a viabilização da exploração comercial do Cambuci e de outras frutas nativas da Mata Atlântica.
Os estudos abordam diversas características que vão desde aroma à genética, incluindo multiplicação e produção de mudas. Esses esforços podem contribuir para que, em futuro próximo, todos nós possamos desfrutar dessas brasilidades pouco reconhecidas e exploradas, diversificando ainda mais nosso mercado frutícola!
ESCRITO POR:
Marcelo Almeida de Oliveira Junior; Matheus Luís Docema; Marcela Sant’Anna; Laecio Sampaio; Gyovana Ridolfi; Mateus Ramos; Eveline Tavano; Liliane Stipp.
REFEFÊNCIAS
Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: . Acesso em: 21 maio. 2019.
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Fonte: Blog Descascando a Ciência-UNICAMP